MARIO DEGNI

MEMBRO EMÉRITO


MINICURRICULO


  • PRESIDENTE DA SBACV NAS GESTÕES DE 1952 A 1955; 1963/1964

    O Prof. Mário Degni com seus 40 anos de idade, em 01/11/1952 fundou a Sociedade Brasileira de Angiologia (SBA), hoje Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), na qual foi empossado como primeiro presidente.
    Mario Degni era, antes de tudo, um homem dedicado ao trabalho e ao ensino médico. No quinto ano de medicina, publica seu primeiro trabalho científico: “Amputações — considerações gerais e fisiopatologia da dor no coto de amputação”. No quinto e sexto anos, trabalhou na 4ª Clínica Cirúrgica de Homens da Santa Casa de Misericórdia, Serviço do Prof. Benedito Momitenegro. Ao mesmo tempo freqüentava oficialmente a Cadeira de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental do Prof. Edmundo Vasconcelos, na qualidade de instrutor voluntário.
    Ao terminar a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em 1937, iniciou suas atividades profissionais como cirurgião do Sanatório Santa Catarina e, até 1945, exerceu o cargo de assistente extranumerário da Cátedra de Técnica e Cirurgia Experimental da mesma Faculdade, também sob a direção do Prof. Edmundo Vasconcelos. “Antes de se dedicar como especialista em angeologia e cirurgia vascular, foi um cirurgião geral, capistis ad caldium, ou seja, da cabeça aos pés, e bo”, assim o descreveu Nelson Madrid, um dos seus discípulos.
    “Mário Degni, in memoniam”, este é o nome do artigo publicado na revista Archivos de Cirurgia Vascular, de fevereiro de 1997, escrito pelo ProF. Marcelo Páramo: “foi pioneiro no estudo e tratamento da patologia linfática e venosa, um notável cirurgião geral, escreveu inúmeros trabalhos de técnica cirúrgica, algumas das quais, como acontece em todo pioneiro, foram controvertidas abriram a porta para que outras investigações nelhorassem a idéia original, destacando entre elas as derivações da circulação porta”.
    Era de erudição científica, parecia antecipar-se ao seu tempo. Audacioso, inovador, polêmico, capaz de despertar, com a mesma intensidade, sentimentos de ódio e adoração entre opositores e discípulos. Sua clínica da rua Veridiana, 661, foi, durante muitos anos, uma das principais íornecedoras de especialistas para o Brasil e América do Sul. Desde a primeira reunião ordinária da SBA, no dia10 de janeiro de1953, às 21:00hs, com a presença de seu amigo e companheiro, Prof. Rubens Carlos Mavall, entre outros, passaram por lá centenas de médicos ávidos por aprender a nova especialidade.
    Durante anos foi, provavelmente, a locomotiva principal da SBA Membro de 60 sociedades científicas, no Brasil e no exterior. Viajava muito, participou de 30 bancas examinadoras para defesas de teses de doutorado e livre-docência. Relator ou conferencista oficial em congressos nacionais e internacionais em 85 oportunidades. Só no Brasil, proferiu 375 palestras sobre temas médicos Organizou diversos congressose 41 cursos sobre atualizades médicas. Com frequência hospedava, na p´ropria casa, seus convidados palestrantes.
    Mano Degni trabalhou muito e intensamente até ser acometido de sua primeira doença em 1990. Entretanto, não se abateu, voltou ao trabalho de forma moderada, até que, em 1993, desativou a clínica da rua Veridiana, e com isso se encerraria um capítulo histórico da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.
    O Prof. Degni atendia a todos os convites, parecia incansável. Realizou mais de 600 demonstrações cirúrgicas de caráter didático em diversas cidades do interior e capitais do País. Em muitas delas empregava técnicas próprias ou modificadas por ele.
    Num depoimento no vídeo sobre “As origens da Angiologia e Cirurgia Vascular no Brasil”, editado em 1995, o Prof. Carlos José de Brito, do Rio de Janeiro, disse: “Não me lembro mais bem, mas acho que foi por volta de 1953 ou 54, apareceu um doente na enfermaria 13 e nenhum cirurgião do Rio quis operar o paciente. Entraram em contato com os cirurgiões de São Paulo e então o Prof. Degni veio operá-lo. Chegou de automóvel às 10:00hs da noite com a equipe e os ‘ferrinhos’ dele. Naquele tempo, na via Dutra, nem tinha duas pistas ainda. Mandou botar o doente na mesa e operou. Naquela época, operar à noite era coisa que não existia.”
    Assim como essa, tantas outras histórias poderiam se contadas sobre o Prof. Degni. Sua perseverança na busca de ideais determinados e o sucesso obtido, fruto de trabalho árduo, motivaram elogios e críticas. Tocou sua vida com a força dos vitoriosos. Foi Reitor da Universidade de Campinas em 1965 e estruturou a Faculdade de Medicina dessa Universidade, na qual, por quatro anos (1964-68) foi o diretor do Departamento de Cirurgia. Participou da direção de 14 diferentes revistas médicas. Entre essas, destaca-se sua posição no conselho diretor do Journal Cardiovascular Surgery e diretor científico da revista Ars Curandi. Junto com o Prof. Rubens Mayall, fundou a Revista Brasileira Cardiovascular, em 1965 e por 15 anos foi o editor. Diretor da Faculdade de Medicina da Fundação de ABC de 1967 a 1970. Contudo talvez preferisse seguir o aforismo de Sir Wiston Churchil: “Eu não posso lhes dar a fórmula do sucesso. Porém posso dar-lhes a fórmula do fracasso: tente agradar a todos.”
    Paulista da cidade de Santo André, nasceu em 5 de dezembro de 1911, sentiu na infância os rigores da Primeira Guerra Mundial. A família lutava com dificuldades, cresceu vendo o pai, Sr. Saviano, retirar da barbearia da Praça da Sé o sustento diário. Por vezes, ajudava quando podia, até ingressar no curso médico da USP, em 1931. Aquele jovem, de origem humilde, não podia supor que 33 anos depois seria agraciado com a láurea distinguida apenas a cinco médicos em todo o mundo e uma das quais se orgulhava, entre as mais de 80 condecorações recebidas: “Surgeon of Century”. Outorgada em 1964 pelo International College of Surgeons de Chicago, nos Estados Unidos. Foi o único cirurgião brasileiro, até hoje, a receber esse título. Recebeu, também, outros títulos honoríficos importantes: Comenda Grande Oficial da Ordem do Mérito Médico da Presidência da República, Cidadão Emérito de Santo André, Cidadão Emérito Limeira, Cidadão Campineiro e Cidadão Paulista.
    Era um profundo conhecedor de anatomia. Aos 35 anos de idade defendeu tese de livre-docência para a Cátedra de Técnica Experimental da Faculdade de Medicina da USP: “Contribuição anatômica para a cirurgia do ducto colédoco”. Dois anos depois, em 1948, a tese para professor catedrático de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de Porto Alegre: “Estudo anátomocirúrgico das artérias do colo, sigmóide e do segmento reto-sigmóide”. Em ambas aprovado com distinção. Foi também “Doutor Honoris Causa” pela Universidade Federal de Santa Maria no Rio Grande do Sul.
    O curriculum vitae de Mário Degni é extenso, compreende 1.347 documentos, tentar resumi-lo não é tarefa fácil. Ao falecer em 6 de agosto de 1996, aos 84 anos de idade, deixou 95 artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais. Dentre esses, 25 relatam técnicas inéditas e inventos de instrumentos cirúrgicos. Autor de 16 filmes sobre as mais variadas técnicas cirúrgicas. Recebeu, em 1979, a Medalha de Ouro pela contribuição ao progresso da Linfologia e suas novas técnicas, por ocasião do VII Congresso de Linfologia, em Florença, Itália.
    Foi casado duas vezes. Sua primeira esposa Sra. Ruth Ribeiro e Silva Degni, o deixou viúvo em 1985. Três anos depois se casaria novamente, com a Sra. Flora Vieira de Barros Degni, com quem viveu até falecer, vitimado por apoplexias que lhe roubavam parte de controle no lado direito do corpo.
    Mário Degni foi, sobretudo, um homem justo, de trajetória humana e poética. Pode ser considerado como um dos mais fecundos angiologistas brasileiros. A morte é horrível para aqueles a quem tudo se extingue com ela, mas não para aqueles cujo bom nome não morrerá jamais.